Os avós vêm de longe,
uma lonjura percebida nos olhos e manifestada nas rugas,
no andar vagaroso, sem pressas,
nas memórias antigas de mundos há muito desaparecidos e só visíveis ao seu olhar.
Escondido numa qualquer palavra mais distraída, os avós levam o futuro:
o deles e o dos que, um dia, serão eles.
Futuro em palavras estranhas: “no meu tempo”…
Como se o tempo de agora já não fosse deles.
O tempo dos avós é sempre.
Mesmo quando os filhos e os netos os esquecem, ignoram, abandonam…
até uma risada cristalina e apressada,
anunciando a intemporal brincadeira entre avós e netos, os trazer de novo a casa,
ao lar de onde nunca deveriam ter saído.
De mãos dadas, quem leva quem: o avô ou o neto?
Primeiro, o avó; mais tarde, talvez, o neto,
numa cumplicidade intemporal que termina sempre demasiado cedo.
Juntos fazem o caminho, devagar,
cada um apreciando, a seu modo, o tempo que lhe é dado para cuidar do outro,
o tempo que lhes é dado para cuidarem do presente,
o único que verdadeiramente importa.
Já houve avós e netos assim? Ainda há avós e netos assim?
Se a memória me não engana e os meus olhos vêm bem,
já houve, ainda há…
Oxalá não estejam em extinção,
qual espécie rara, atropelada pelo progresso, pela pressa,
pela fúria
à solta nas ruas das nossas cidades e mesmo nos caminhos das nossas aldeias.
Aos avós, a todos os avós. Aos netos, a todos os netos.
Cuidem uns dos outros, hoje.
Não amanhã, não um dia no ano.
Hoje.
Cedo virá o tempo da separação. Vem sempre cedo.
Não o apressem com palavras egoístas, com esquecimentos, com abandonos.
Obrigado avós, árvores antigas, raízes das nossas famílias.
Na sombra,
esquecidos,
acolhidos,
amados,
cuidando de todos,
cuidados por todos,
presença forte,
debilidade enternecida,
memória e anúncio…
Obrigado.
Elias Couto
InFamilia