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Aprovar uma lei da eutanásia, daria o poder de administrar a morte, perante a impotência de superar a dor, a solidão e a angústia. Um poder que evidenciaria a profunda debilidade, incapacidade e contingência do ser humano.

A medicina sempre se dedicou a cuidar da vida das pessoas, a procurar a sua saúde, a evitar a sua morte prematura ou a acompanhar os moribundos, a fim de aliviar o seu sofrimento até à etapa final; porém, se fosse aprovada uma lei da eutanásia, a medicina passaria a ter também a função de administrar a morte a quem a solicitasse, mediante a administração de uma determinada substância, ou no caso do suicídio assistido, a prescrição de um produto específico, de forma a que o doente o administrasse, causando a sua própria morte.

Mesmo que alguns se sintam entusiasmados, perante uma eventual aprovação da lei da eutanásia, que lhes garantiria o direito de terminar com a vida, a verdade é que continuamos sem ver consagrado o direito a uma atenção adequada, eficaz e universal, às pessoas que se encontram na etapa terminal da vida. Não obstante, ressalve-se: a eutanásia não é a resposta para os doentes terminais, mas a medicina agressiva e focada exclusivamente no ataque à doença também não. Tem que haver um ponto de equilíbrio que salvaguarde acima de tudo a dignidade da pessoa, uma resposta ativa aos problemas decorrentes da doença prolongada, incurável e progressiva, que inclua a prevenção do sofrimento e que proporcione a máxima qualidade de vida possível aos doentes e às suas famílias. São os cuidados paliativos.

Os médicos não podem ignorar nem virar a cara para o lado, quando um enfermo afirma que não deseja viver em situação de sofrimento contínuo e insuportável. Isso não significa que tal pessoa queira morrer, significa, sim, que não quer sofrer e, perante tal caso, os médicos têm o dever de intervir, encontrando soluções para evitar o sofrimento. Daí que seja importante refletir sobre as causas que levam alguém a pedir a morte. É que há situações na vida que podem ser revertidas, mas a morte, não; e no caso da eutanásia, uma vez aplicado o fármaco mortal, não há retorno. É o fim.

Como tal, os profissionais de Enfermagem, de Medicina ou de Psicologia, deveriam procurar conhecer de perto as circunstâncias de vida do doente, aliviar-lhe os sofrimentos físicos ou psicológicos, desculpabilizá-los do conceito de “carga para os outros” e ajudá-los a reforçar as suas crenças espirituais. O enfermo em situação terminal tem, como nunca, direito à ternura, ao amor, à presença dos seus mais próximos e à tranquilidade. O enfermo em situação terminal tem direito a viver a etapa final da sua vida com a dignidade de pessoa com biografia única, com um nascimento e uma morte sem artificialismos.

Por vezes querem-nos fazer crer que não existe alternativa para o sofrimento extremo, a não ser o ato de provocar deliberadamente a morte. Não é assim. O médico pode “permitir” morrer sem que isso signifique “administrar a morte”; não pode é prolongar artificialmente a agonia da pessoa nem administrar a morte.

Quando se fala de eutanásia, convém ter cuidado com o jogo da ambiguidade das palavras, para que não restem confusões em torno das práticas que nada têm a ver com a eutanásia, como o fim dos tratamentos fúteis ou a denominada “obstinação terapêutica”. Sublinhe-se que a renúncia aos meios desproporcionados, não equivale ao suicídio ou à eutanásia, mas constitui apenas a expressão da aceitação da condição humana perante a morte.

Paradoxalmente, a eutanásia revela o poder e a impotência do homem: o poder de dispor da vida, diante da sua impotência frente à morte. O poder de dar a morte ante a impotência de superar a dor, a solidão e a angústia. Um poder que procede da sua impotência. Um poder que revela a profunda debilidade, incapacidade e contingência do ser humano. Um poder pobre e aniquilante.

É este o poder que seria atribuído aos médicos, se fosse aprovada uma lei favorável à eutanásia.

Dizia-nos S.João Paulo II: “Não existem vidas indignas de serem vividas; não há sofrimentos, por muito penosos que sejam, que justifiquem a supressão de uma vida.”

Por uma Cultura da Vida – 23: A etapa final…