
A figura do pai parece estar em crise. Existem autores que afirmam vivermos na cultura do eclipse do pai, porque a sua presença ocultou-se até ao ponto de parecer irreconhecível. Basta ver como tem sido representado no cinema ou nas séries, para comprovar que abundam os pais ausentes (física ou psicologicamente), incompetentes ou conflitivos. Pais antipaternos, em definitivo. Por isso, há quem tenha questionado, inclusive, a necessidade da figura paterna. Por outro lado, percebem-se, cada vez mais, sinais que apontam para um desejo de encontrar modelos de boa paternidade, uma fome de ter um pai que anseia por recuperar a sua presença benéfica na família e na sociedade.
Pergunta-se: se não contarmos com a presença do pai, perde-se alguma coisa? A resposta passa por identificar o seu papel específico, diferente e complementar ao da mãe, com os seus dons exclusivos e diferentes, pelo que a sua ausência não seria neutra.
Em que consiste a paternidade e a maternidade? E qual seria o papel específico do pai? Sugerimos algumas pistas:
– A paternidade e a maternidade são identidades, não atividades. Ser pai transcende a biologia. É uma identidade que nos ajuda a crescermos como pessoas, colocando à disposição do outro, por amor, os dons recebidos. No coração do pai ou da mãe bate o desejo de acolher o dom e o mistério da existência do filho, aceitar que tem uma palavra a dizer quanto ao seu destino e ser condição do seu crescimento a todos os níveis, desde os biológicos inferiores até aos culturais superiores.
– A paternidade e a maternidade são sempre oblíquas. Nascem em simultâneo com o filho, mas a sua relação com ele não é direta, mas provém de uma relação precedente: aquela que vivem o pai e a mãe entre si e pela qual recebem e se entregam mutuamente o dom da paternidade. O filho vive do amor que cada um dos pais lhe dedica mas, sobretudo, do amor que os pais têm entre si. É desta forma que ensinam o filho a amar, amando-se entre eles e antecipando-se a amar o filho. É o que significa predileção: eu amo-te primeiro!
– Nós, os pais, não somos especialistas, mas somos educadores natos. O nosso talento educativo reside no vínculo de amor incondicional que geramos com o filho. Um amor terno e exigente que o confronta com a verdade da realidade circundante. Através do vínculo, os pais entregam tudo e os filhos tudo recebem. Por isso, dada a assimetria da sua relação, a virtude mais própria do filho é a gratidão e a dos pais é a misericórdia, ajudando o filho e convertendo em ocasião de crescimento, até os seus erros e as suas debilidades.
– Só um homem pode ser pai. Porém, esta vocação para a paternidade, vive-se de modo diferente, enquanto pai ou enquanto mãe. As virtudes são humanas (tanto do homem como da mulher) e os dons e as qualidades de cada pessoa em concreto são individuais. Mas o pai assume o seu papel específico, através do seu modo próprio de ser pessoa, isto é, como homem. Por esse motivo, o seu papel é diferente, único e irrepetível, como pessoa, e também é complementar ao da mãe. Ser pai consiste em levar à plenitude da entrega, por amor, dos dons recebidos, enquanto homem. No núcleo destes dons, encontra-se uma força masculina, generosa e abundante, que não constitui um fim em si mesma, mas procura enriquecer a realidade com o dom da sua contribuição criativa e promovendo uma salutar autoridade.
– Minha filha, um homem pode olhar para ti, desta ou daquela forma… Entre outras coisas, o pai ensina a filha a receber um olhar honesto sobre a sua feminilidade, por parte de um homem. Um olhar que valha pelos aspetos concretos da sua pessoa, corpo e alma. Um olhar não erotizado, que destaque o valor da filha e que ela aprenda, no futuro, a reconhecer as ocasiões em que o olhar é diferente do que deveria ser.
– Meu filho, acompanho-te até ao mundo dos homens. O pai ocupa um lugar privilegiado para ajudar o filho a descobrir os seus dons, já que existem diferentes formas de ser homem. O filho também é vulnerável e experimenta uma grande necessidade de ser observado pelo pai, sentir-se amado e ver validada a sua conduta; um pai que se interesse pelo seu crescimento e seja capaz de valorizar tanto o resultado, como o esforço, a tenacidade e o carácter.
Precisamos de homens que nos recordem que a força do pai não está tanto nos “braços” mas no coração e que reside mais nos atos do que nas palavras!
Por isso, podemos recorrer a S. José, pedindo-lhe que nos ajude a ir à raiz do que significa ser pai. Ele ensina-nos que a verdadeira paternidade consiste em acolher sem medo, a grandeza do desafio, em proteger os filhos sem desejo de se apropriar do seu destino, em aprender a desaparecer quando a ocasião assim o indicar e, em definitivo, aceitar o papel de colaborador de Deus, na edificação da pessoa dos filhos.
Queremos agradecer a todos os pais “suficientemente bons”, que acolhem em cada dia esta maravilhosa vocação, e que, apesar dos naturais erros e debilidades, vêem a paternidade como um dom maravilhoso, em colaboração com a mulher e em benefício dos filhos.
Por tudo isso…pai, preciso de ti!
Um feliz Dia do Pai!
Eduardo Navarro